A epidemiologia é o estudo da distribuição, frequência e determinantes das doenças que afetam a população, ou seja, é a ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas. A partir deste estudo é possível propor medidas específicas de controle, prevenção ou erradicação de quadros, fornecendo indicadores que irão servir de suporte ao planejamento e avaliação das ações em saúde.
Com a transição epidemiológica, tecnológica, demográfica e nutricional, nota-se um câmbio de cenário: as principais causas da mortalidade em meados do século XX eram as doenças infecciosas, e atualmente, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (tais como: diabetes, hipertensão, câncer, doenças coronarianas) se estabeleceram como a principal causa de morte em nível mundial. Esta transição epidemiológica é caracterizada por influências de fatores socioeconômicos, sociopolíticos, socioculturais, psicossociais e fatores ambientais.
Apenas no Brasil, as DCNT consistem o problema de saúde de maior magnitude e correspondem a 72% das causas de morte. Em nível mundial, das 57 milhões de mortes, 36 milhões foram decorrentes de DCNT.
Neste sentido, a epidemiologia da atividade física é colocada em pauta. Sabe-se, a partir de levantamentos epidemiológicos que a inatividade física e obesidade estão entre os dez fatores de ricos de morbidade e mortalidade no mundo e, apenas a inatividade física é responsável por 5,3 milhões de mortes por ano. A atividade física no contexto das redes multicausais, entra como o principal fator para a diminuição da incidência e prevalências de doenças crônicas não transmissíveis.
As primeiras evidências científicas sobre epidemiologia da atividade física (AF) surgiram na segunda metade do século XX, por meio dos trabalhos de Jeremy “Jerry” Morris e colaboradores. Em seus estudos, foi constatado um menor número de mortes por todas as causas em indivíduos inseridos em atividades ocupacionais mais vigorosas (cobrador de ônibus na cidade de Londres, em que subia e descia os dois andares do ônibus), quando comparados aos trabalhadores que possuíam atividades mais leves (motoristas de ônibus). A partir de outros estudos com esta temática, a epidemiologia da atividade física começou a se desenvolver em grande escala, e chegou ao Brasil na década de 70.
A partir disto, o conhecimento acumulado na área da epidemiologia da AF destaca a associação inversa da prática regular de AF com DCNT. Sob estas circunstâncias, a promoção da AF foi inserida como pauta prioritária da saúde pública. Por ser prioridade em saúde pública, foram desenvolvidas políticas, vigilância e sistemas para o controle e levantamento dos níveis de atividade física na população, tais como uma sessão específica de atividade física na Política Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD); o sistema de vigilância de fatores de risco e proteção associados a DCNT (por inquérito telefônico) (Vigitel); a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE); A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) e o Plano de Enfrentamento das Doenças e Agravos Não-Transmissíveis – sendo estes dois últimos, as políticas que regem as pesquisas e a vigilância.
Tendo em vista todos estes dados, frutos de levantamentos epidemiológicos, observa-se que a população ainda não se envolve em práticas de atividade física, não se alimenta de acordo com as novas recomendações e apresentam um nível crescente de comportamentos nocivos, tais como o abuso de álcool e comportamento sedentário. Por exemplo, quase 50% do conjunto total da população brasileira é considerada inativa fisicamente. Foi observado também que quanto maior a idade, menos envolvimento, quanto maior a renda mensal, maior o percentual de quem pratica, e barreiras de gênero: homens praticam mais atividade física que as mulheres.
Sendo assim, é imperioso que os profissionais de saúde tenham conhecimento do panorama que envolve sua área de atuação para potencializar e fomentar de forma efetiva as ações a serem realizadas: tanto na atenção primária, secundária e terciária de saúde, considerando que podemos atuar diretamente na incidência e prevalência do acometimento destas doenças.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Vigitel: Brasil, 2017
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – 3. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010
SHIROMA, I.; LOBELO, F.; et. al . Physical Activity Series Working Group: Effect of physical inactivity major non communicable diseases worldwide: an analysis of burden of disease and life expectancy. Lancet, pp. 219-229, 2012.
NOCON, M. et al. Association of physical activity with all-cause and cardiovascular mortality: a systematic review and meta-analysis. European Journal of Cardiovascular Prevention & Rehabilitation, London, v. 15, n. 3, p. 239-46, 2008. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18525377>.
RAMIRES et al. Evolução da pesquisa epidemiológica em atividade física e comportamento sedentário no Brasil: atualização de uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Atividade Fisica e Saúde. Pelotas/RS. 19(5):529-530. Set/2014
HALLAL, P. Atividade física e saúde no Brasil: pesquisa, vigilância e políticas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 30(12):1-3, dez, 2012.
PITANGA, F. J. Epidemiologia, atividade física e saúde. Rev. Bras. Ciên. E Mov. Brasília. v.10 n. 3 Jul/2002